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Fundo de Garantia de Depósitos

Cortes de depósitos em Chipre não geraram contágio em Portugal

Patriotismo? Iliteracia Financeira? Ou um exercício de racionalidade? O facto é que a avaliar pelo dados do Banco Central Europeu analisados pelo Jornal de Negócios relativos à evolução de depósitos no conjunto dos meses de março e abril revelam um aumento do valor junto de instituições financeiras a operar em Portugal. Ou seja, a crise de Chipre ocorrida durante o mês de março que levou à perda de uma parte significativa dos valores depositados por quem tinha mais de €1 milhão em cada banco em seu nome não parece ter contagiado os aforradores portugueses que, inclusive, aumentaram em 0,44% os seus depósitos.

As empresas, em particular, revelaram um reforço do valor depositado de 3,36% face ao início de março sublinhando a confiança na banca nacional.

Recorde-se que desde o bail-in em Chipre (com os cortes nos depósitos, entre outros, para recapitalizar a banca) as autoridades europeias reforçaram, quer a perspetiva de que todos os depósitos até €100.000 estão totalmente seguros, quer a perspetiva de que todos acima desse valor poderão vir a ser chamados a contribuir caso a instituição financeira que os acolhe enfrente dificuldades. Continua por estabelecer definitivamente a União Bancária Eruopeia que se espera vir a definir as regras e mecanismo de saneamento bancário e de solidariedade bancária no espaço europeu.

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Chipre: significa isto que devo levantar os meus depósitos?

Recomendamos a leitura de “Os meus depósitos a prazo estão em risco?” no Economia e Finanças. Destacamos:

“(…) Os meus depósitos a prazo estão em risco?

É inegável que se pode ter aberto uma caixa de Pandora. Hoje já não é possível dizer que os depósitos a prazo na Zona Euro até aos €100.000 estão a salvo de qualquer corte a confirmarem-se os termos da proposta do Eurogrupo.  Seguramente,e os depósitos terão um risco muito diferenciado dentro da zona euro dependendo do país em que estão localizados. Algo que já existia antes destes desenvolvimentos em Chipre mas que aumentou de forma comprovada com este episódio.

Em suma, aumentaram, objetivamente os incentivos racionais para não concentrar poupança em países pequenos ou médios (à escala europeia) que estejam particularmente dependentes do apoio dos seus parceiros para evitarem um cenário de bancarrota.

 

Significa isto que devo levantar todos os meus depósitos?

Não necessariamente. Estamos a falar de um risco acrescido, não estamos a descrever um cenário certo, nem sequer um cenário de perda total do valor depositado.  Mesmo imaginando como certa uma perda igual à prevista em Chipre de cerca de 6,75% há custos significativos em muitas alternativas de investimento face a um depósito a prazo. Por exemplo, a compra de outros ativos ou mesmo de bens valiosos pode facilmente, fruto da volatilidade associada, representar num curto espaço de tempo, perdas superiores ao valor potencialmente em risco nos depósitos a prazo. Por outro lado, um depósito num banco de um estado “seguro” tipicamente tem de se fazer no estrangeiro e pode exigir residência nesse país acarretando também custos que numa poupança de até €100.000 pode não se justificar.

 

A recomendação genérica que fazemos será a de que se diversifique a carteira de investimento de ativos de baixo risco.

  • Sim, ter mais algum capital fora do sistema financeiro pode fazer sentido, seja com reserva no ‘colchão’, seja num cofre bancário.
  • Sim, deter alguma parte da poupança em outras moedas ou valores pode fazer sentido, escolhendo criteriosamente o investimento e tendo consciência de que há sempre risco inerente (cambial, roubo, etc).
  • E sim, há incentivos também muito fortes internos e externos para que não se instale a desconfiança generalizada entre os cidadãos face ao sistema financeiro pelo que apesar de mais arriscado, ter o dinheiro depositado no banco e a gerar um rendimento real positivo como acontece agora em Portugal continua a ser uma opção de poupança legítima e defensável. Pelo sim, pelo não, ponha alguns ovos noutros cestos, mas não deite a opção dos depósitos bancários para o lixo das suas opções de aforro.”