Renovar automaticamente um depósito a prazo pode sair-lhe muito caro? Imagine que um dos seus depósitos a prazo chega ao fim do prazo e é substituído pelo pior depósito a prazo existente no mercado. Como é que isso pode acontecer?
ATUALIZAÇÃO 19MAR 2015: leia o artigo “BBVA corrige FIN e já não tem depósito com taxas negativas“.
Renovar automaticamente um depósito a prazo pode sair-lhe muito caro
O banco credita-lhe o juro na conta a ordem e… o que é que acontece com o dinheiro investido no depósito? Podem acontecer três coisas:
- A mais natural talvez seja o dinheiro ser também creditado na conta à ordem juntamente com os juros,
- outra também mais frequente do que deveria ser recomendável é o Banco de sua livre iniciativa colocar o seu dinheiro num outro depósito a prazo mesmo não tendo a aprovação prévia do cliente para isso,
- outra ainda é o Banco, seguindo as indicações que constavam da Ficha de Informação Normalizada do depósitos a prazo entretanto extinto, proceder à renovação automática do depósito a prazo para o produto que aí surgia indicado.
Se na segunda hipótese parece estarmos perante uma situação de abuso – que, da experiência que temos, é imediatamente revertida caso o cliente chame a atenção para o facto – na terceira hipótese tudo parece estar bem e feito de comum acordo com a cliente dado que se pressupõe que este tome conhecimento da FIN e assuma tal leitura e entendimento.
E é aqui que as coisas se podem complicar. Se o aforrador não der a devida importância à FIN pode ter uma surpresa desagradável com o processo de renovação automática do depósito a prazo. Qual? Descobrimos que num conjunto de depósitos a prazo online que o BBVA inaugurou muito recentemente (com depósitos de 15 dias a 366 dias e a taxas competitivas para a atual condição do mercado) a renovação automática implica que o dinheiro, vencido o primeiro depósito a prazo, seja colocado num outro que remunera a uma taxa de juro que resulta da Euribor a 3 meses subtraida de um spread de 1% (ou 100 pontos base). Ora a euribor a 3 meses cotava a 13 de março de 2015 nos 0,025% (2,5 pontos base). Se a este valor subtrairmos um spread de 100 pontos ficamos com uma taxa de juro negativa de 0,975%. E é esta taxa que todas renovações automáticas dos depósitos a prazo online do BBVA passarão a receber, ou seja, a cada ano completa por cada €100, no final do prazo, os cliente já só lá terão €97,5. Os depósitos a prazo continuam a ter capital garantido mas só depois do desconto associado à taxa de juro negativa.
Recorde-se que o BCE tem neste momento taxas de referência negativas para remunerar os depósitos a prazo de bancos que lá decidam deixar à guarda as suas reservas, ainda assim, essa taxa é neste momento de -0,20%, muito superior aos -0,975% do BBVA.
Em suma, caro aforrador, por muito criticável que seja esta entrada pela porta do cavalo das taxas de juro nominais negativas em Portugal (espanta-nos, por exemplo, como o BBVA não valorize o efeito descredibilizador que tal prática pode ter, eventualmente revoltando os clientes que venham a ser afetados)o que é certo é que a sua recolha de informação sobre que depósito a prazo contratar, não deve cuidar apenas das condições associadas a esse depósito, descuidar o dia seguinte pode sair-lhe caro.
Bons negócios.