Na sequência de mais uma descida das taxas diretoras do Banco Central Europeu (BCE) decididas recentemente e em virtude do atual presidente do BCE continuar a afirmar disponibilidade para descer mais as referidas taxas (chegando a admitir que a taxa de depósito dos bancos junto do BCE possa vir a ser negativa em termos nominais – é de 0% neste momento) as taxas de juro fixadas pelo mercado interbancário – as Euribor – tem vindo repetidamente a bater mínimos históricos.
Como é sabido, até pelo mecanismo de penalização de taxas de juro de depósitos a prazo fixado pelo Banco de Portugal,* a remuneração dos depósitos que são apresentados às famílias e às empresas reage de forma alinhada às subidas e descidas da Euribor pelo que a pressão para descidas futuras das taxas de juro pela via do indexante estão a aumentar. Isto não quer contudo dizer que, no caso português, os depósitos estejam a perder interesse em termos de capacidade de oferecer uma valorização real da poupança feita. Porquê? Como aqui já dissemos, a inflação representa um papel fundamental nestas contas. Se a inflação descer numa ordem de grandeza comparável à descida da taxa de juro que é paga pelo depósito este, no final do prazo, terá garantido o mesmo valor que tinha inicialmente, ou seja, face ao passado, terá conseguido evitar a perda do imposto silencioso que é a inflação em termos de perda de poder de compra.
Se a inflação diminuir a um ritmo mais acelerado do que aquele a que estão a diminuir as taxas de juro, então, o depósito a prazo pode inclusive oferecer um aumento do poder de compra quando se compara o momento de início e de fim do referido depósito.
O que está a acontecer agora?
Como já indicámos anteriormente, face a 2012, os depósitos a prazo têm vindo a aumentar a sua taxa de juro real (taxa de juro nominal menos inflação) precisamente por via de uma queda muito rápida da inflação. Este cenário vai manter-se? Bom, sendo certo que devemos esperar descidas da taxa de juro, também é certo que as revisões feitas à taxa de inflação prevista para Portugal no final de 2013 não têm parado de ser feitas em baixa. No recentemente apresentado Documento de Estratégia Orçamental, por exemplo, o deflator do consumo privado que tipicamente se aproxima da taxa de inflação foi apresentado como perspetivando um aumento dos preços para 2013 de apenas 0,5% o que indicia que os ganhos reais oferecidos pela generalidade dos atuais depósitos a prazo deverão manter-se, pelo menos quando comparados com o passado recente.
A confirmar-se uma taxa de inflação em 2013 de 0,5%, qualquer depósito que remunere a uma TANB igual ou superior a 0,7% garantirá um ganho de poder de compra ao investidor.
*Este mecanismo, grosso modo penaliza os bancos por todos os depósitos cuja remuneração supere em mais de 3 pontos percentuais a taxa do indexante para um prazo comparável (tipicamente a Euribor).