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Finanças familiares - poupança

Taxas de juro de depósitos a prazo afinal estão a aumentar

Quem esteja atento à evolução das taxas de juro nominais com que são remunerados os depósitos a prazo pode pensar que o título deste artigo é um disparate, contudo, se em vez das taxas nominais tomarmos as reais, o facto é que o juro pago pelos depósitos a prazo tem aumentado e muito. Eis as explicações.

Os dados mais recentes sobre as taxas de juro de depósitos a prazo dizem respeito ao mês de setembro de 2013 (dados do Banco de Portugal) e analisando-os constata-se que a taxa de juro  para depósitos até um ano pago a poupança de particulares continua a diminuir em termos nominais líquidos de IRS, tendo-se fixado em 1,40% (TANL). Em setembro de 2012 essa mesma taxa era superior: 1,87% TANL.

Contudo, no mesmo período, a taxa  juro real aumentou 2,2 pontos percentuais! Como é isso possível? É possível porque a taxa de inflação (ritmo a que sobem os preços) desceu muito mais depressa do que a taxa de juro a que se remuneram os depósitos a prazo. A taxa de inflação em setembro de 2012 era de 3,26% (superior à taxa de juro dos depósitos a um ano) e em setembro de 2013 tinha caído para apenas 0,59% (muito inferior à taxa de juro dos depósitos a um ano). Assim, se em setembro de 2012 depositássemos €100 e quiséssemos garantir que, a manter-se a taxa de inflação naquele momento, no final de um ano o dinheiro mais os juros que receberíamos seriam suficientes para adquirir pelo menos os mesmos bens e serviços, o depósito teria de ter uma taxa de juro que correspondesse à taxa de inflação (3,26%). Daqui se deduz, uma vez que a taxa média nos depósitos a um ano era de 1,87% em setembro de 2012 que quem constituía depósitos a essa taxa teria uma taxa de juro real negativa de 1,39%.

Hoje a taxa de juro líquida de impostos é superior à taxa de inflação (tantos para depósitos até um ano de particulares como de empresas) pelo que a expectativa é de que, no final do prazo, o poder de compra do aforrador tenha de facto aumentado e não diminuído. Um cenário muito diferente do que se registava em setembro de 2012. Hoje, um depósito até um ano deve ter uma taxa de juro real de cerca de 0,59% (já líquida de impostos). Para conhecer os depósitos que lhe remuneram as melhores taxas já sabe que deve consultar a nossa base de dados.

Consulte a nossa tabela com cálculos em cima de dados do Banco de Portugal e do INE.

Taxas líquidas de IRS dez-11 set-12 dez-12 set-13
Taxa de juro depósitos particulares (até 1 ano) 2,56 1,87 1,68 1,40
Taxa de juro depósitos empresas (até 1 ano) 2,92 1,18 1,33 1,46
taxa de inflação 3,65 3,26 2,77 0,59
Juros reais (descontada a inflação e IRS) dez-11 set-12 dez-12 set-13
Taxa de juro depósitos particulares (até 1 ano) -1,09 -1,39 -1,09 0,81
Taxa de juro depósitos empresas (até 1 ano) -0,73 -2,08 -1,44 0,87
Depósitos por valor investido

Depósitos com TANB acima dos 0,84% já podem oferecer ganho real em 2013

Segundo a previsão mais recente da Comissão Europeia a taxa de inflação em Portugal no corrente ano poderá não ir além dos 0,6%, um valor abaixo dos 0,9% previstos pelso governo ou pelo Banco de Portugal (0,9%). Sabemos assim que, em média, para conseguirmos comprar um mesmo cabaz de bens e serviços que adquiriamos por €100 no início do ano, precisaremos de ter €100,60 se quiseremos adquirir no início de 2014, isto a confirmar-se a previsão. Recorde-se que em 2012 a taxa de inflação foi de 2,8%

Uma inflação de 0,6% será o segundo valor mais baixo desde que há registos (tivemos pontualmente deflação ou descida de preços em 2009) e tem uma consequência direta na remuneração real dos depósitos a prazo.

Para apurarmos a taxa de juro real (a que mede o ganho de poder de compra) deveremos sempre descontar à taxa de juro anual nominal bruta os impostos mas também a expectativa de crescimento de preços. Ora quanto à inflação, se em 2012 à TANB deveriamos ter descontado algo como 2,8% (a inflação que se veio a verificar) em 2013 “bastará” descontar 0,6% o que conduzirá a que, se as taxas de juro  (TANB) se mantivessem, váriso depósitos a prazo passariam a oferecer um ganho real de poder de compra, algo que era raro em 2012.

Assim, neste momento, com a informação disponível, qualquer depósito a prazo que ofereça uma TANB acima dos 0,84% deverá permitir combater o efeito de inflação ou mesmo permitir um ganho real significativo. Em 2012 só taxas acima de 3,89% terão garantido tal resultado.

Um depósito com TANB de 3,5% em 2012 ofereceria um ganho real negativo de cerca de 0,28% (descontado o IRS e a inflação). Em 2013, a confirmar-se a inflação de 0,6%, um depósito com igual taxa oferecerá um ganho real de 1,92%.

E assim, mesmo com as taxas de juro dos depósitos a prazo em queda (agora mais moderada) constata-se que em termos reais, em 2013 poderão de facto estar a tornar-se mais interessantes para quem procura algum ganho real com baixo risco.